Grandes tramas de “Mulheres de Areia”
“A noite vai ter lua cheia...”
Ivani Ribeiro e seus personagens
inesquecíveis. “Mulheres de Areia” (1993) é uma novela com alguns
personagens que entraram para a história da teledramaturgia brasileira, bem
como suas tramas que fizeram da novela o sucesso que ela é até hoje. Pensando
nisso, e como fã dessa obra de Dona Ivani Ribeiro, resolvi comentar sobre as
tramas que realmente se destacaram na novela, como a dos personagens Tônia,
Tonho Da Lua e Malu e Alaor. Destaco aqui a minha opinião sobre como gosto do
fato de “Mulheres de Areia” não ser uma novela com tantos personagens, o
que facilita o bom desenvolvimento de suas tramas sem que o autor se perca em
meio a tantos personagens e não dê conta do que ele mesmo possa ter criado,
além de fazer o público ter uma conexão mais rápida com a obra pela questão de
que poucos personagens e poucas tramas nos fazem criar apego à novela quando
ela é boa.
“Mulheres de Areia” é um clássico maravilhoso!
Tônia
“Você pensa em mim toda hora. Me
come, me cospe, me deixa.”
Desbocada, atrevida, corajosa e
divertida, Tônia, interpretada por Andréa Beltrão, é uma das melhores
personagens de “Mulheres de Areia”. No começo da trama, ela vive um
romance com Joel – interpretado por Evandro Mesquita -, dono do restaurante Estrela
do Mar, um dos points da novela. Mas o namoro dos dois é caótico, já
que eles vivem em pé de guerra porque estão em lados opostos na política de Pontal
D’Areia, e Joel ainda insiste para que Tônia mude seu modo despachado de ser.
Ele não aceita a namorada como ela é. Com a saída de Evandro Mesquita da
novela, por não ter agradado Ivani Ribeiro com o tom que deu ao personagem, a
vida amorosa de Tônia ganha um novo rumo quando Victor, seu primeiro amor e
primo de Joel, retorna a Pontal D’Areia para cobrar uma dívida de Joel e assume
o Estrela do Mar. Assim, ela vê sua paixão por Victor reacender. Porém,
conquistá-lo não será simples, pois ele continua a enxergando como a menina que
um dia ele conheceu, a “saracura” (rs).
Ao longo da novela, Tônia desperta
o amor do bom Dr. Munhoz, que se vê completamente apaixonado por ela e faz suas
tentativas para conquistá-la, sempre com honestidade, paciência e muito amor.
Eu gosto do Munhoz, e não me importaria se o destino de Tônia tivesse se unido
ao dele. No entanto, não foi apenas o amor de Munhoz que a personagem
despertou, mas também a obsessão do vilão Virgílio, que por inúmeras vezes a
assedia e força situações para fazer de Tônia sua amante. Mas ela não é uma
mulher que se deixa intimidar, e enfrenta Virgílio todas as vezes em que ele
apresenta uma ameaça, contando com a ajuda de Munhoz para afastar o vilão -
Tônia é maravilhosa. Em um determinado momento da trama, ela aceita se casar
com o médico, mas, para atrapalhar essa relação, Virgílio investiga o passado
do rival e descobre que ele cometeu um suposto crime: um erro médico. E o vilão
o ameaça com isso.
Quando Munhoz fica longe de Pontal
para provar sua inocência, Tônia se vê obrigada a ceder às investidas de
Virgílio quando Reginho, seu irmão, é sequestrado e ele é o único que pode dar
a ela o dinheiro do resgate. E a ela sofre muito com toda a situação.
Naturalmente, é muito triste vê-la submetendo-se a isso, mas a vida do irmão
estava acima de tudo. Depois que Munhoz retorna com os documentos, provando sua
inocência, Tônia não acha justo continuar como noiva dele depois do que
aconteceu entre ela e Virgílio, porém o médico a compreende como ninguém, não a
julga e fica do lado dela. – Ele realmente seria o homem ideal para a
personagem. Quase na reta final, vemos Tônia sofrer com a morte de Reginho,
vítima de hepatite hemorrágica por conta da poluição das praias de Pontal, que
Virgílio liberou, irresponsavelmente, quando assumiu a prefeitura da cidade.
A novela abordava doenças
relacionadas à poluição das praias, como hepatite e cólera. E Ivani Ribeiro
teve coragem de matar um personagem tão querido de sua obra, o Reginho,
uma criança. Confesso que me chocou um pouco e que também achei pesado. Não
tinha lembrança de que isso acontecia. É triste ver a única criança da novela
morrer. E a morte do irmão faz com que Tônia se envolva no grande mistério da
novela: a morte do inescrupuloso vilão Virgílio. E eu adoro o envolvimento dela
nesse mistério, que hoje em dia não é tão mistério assim, já que “Mulheres
de Areia” é uma novela bastante conhecida do público. No final da trama,
Munhoz reconhece que não conseguirá fazer Tônia feliz, e a deixa livre do
noivado para que ambos sigam com suas vidas. Assim, ela encontra o amor e a
felicidade ao lado de Victor, quando ele passa a enxergá-la como mulher e se
apaixona por ela. Fim.
Tonho da Lua
“De onde vem essa loucura santa?”
Simplesmente o personagem mais
carismático da novela. E brilhantemente interpretado por Marcos Frota - não
existe “Mulheres de Areia” sem Tonho da Lua. Há algo poético no
personagem. É o que mais causou impacto e empatia no público, sem dúvida. Rival
de Raquel, a gêmea má que vive infernizando o seu juízo, Tonho encontra amor e
carinho em Ruth, o completo oposto de Raquel. Eles constroem uma forte, linda e
verdadeira amizade, onde ambos se protegem e podem confiar um no outro. Na
verdade, para Tonho, é mais que uma amizade, porque nutre uma paixão platônica
pela sua “Rutinha”, e por ela é capaz de tudo. Tonho até busca ajuda médica
para seus transtornos mentais, porque quer ficar bom da cabeça para se
casar com Ruth, mas a resposta da medicina não é favorável para ele. Amando
Ruth da maneira mais pura possível, e ele o responsável por fazer com que ela
termine se passando por Raquel, e tudo para que Ruth tenha a chance de ser
feliz com o Marcos.
E confiando em Tonho como nunca
confiou em ninguém, é para ele que Ruth revela seu maior segredo: o filho que
teve de César. De fato, é uma relação muito linda e pura. No decorrer da
novela, Tonho encontra em Ruth o apoio que precisa para também enfrentar as
diversas vilanias do padrasto Donato, que adora atormentá-lo e que vive
arquitetando planos para tirar o enteado de seu caminho porque quer se casar
com a Glorinha, irmã de Tonho – um asco. Além de suas maldades contra da Lua, e
de suas investidas pra cima de Glorinha, fazendo o que pode para acabar com o
romance dela com Tito – Du Moscovis estava muito lindinho nessa novela –,
Donato prejudica, por inúmeras vezes, o progresso dos pescadores de Pontal
D’Areia, e tudo isso para não perder o domínio que ele exerce sobre a pesca da
região. Quando o vilão consegue fazer com que Tonho seja internado num sanatório,
Ruth aconselha o amigo a fingir que perdeu a memória para não ser atormentado
pelo padrasto e passar ileso por qualquer maldade dele.
Logo, temos ótimas cenas de Tonho
da Lua enganando Donato e fingindo que gosta dele. E Tonho é um ótimo ator
(rs). Àquela altura ele já havia lembrado que Donato era o assassino de seu
pai, e quer vingança contra o padrasto que já lhe fez tanto mal. Temos outros
grandes momentos do personagem durante a novela, como quando Tonho ganha o
concurso de esculturas na areia ao esculpir o rosto do pai, sem nem mesmo
lembrar como ele era – embora tenha outras esculturas mais bonitas e mais
elaboradas que a dele (rs) –, ou quando ele, finalmente, se lembra do rosto do
pai e faz uma linda escultura de argila, além dos capítulos em que Raquel passa
a atormentá-lo como se fosse um fantasma que retornou das sombras para acabar
com Tonho. Embora ainda represente uma
ameaça para o enteado, pouco mais da metade da novela, Donato não consegue
impedir o casamento de Tito e Glorinha, e o vilão tem que engolir a derrota
porque perdeu a enteada para o homem que ela ama.
Nos capítulos finais, Donato, após
fugir inúmeras vezes da cadeia – pensa numa polícia ineficiente essa de Pontal
D’Areia (rs) –, finalmente paga por seus crimes ao ser preso sem chances de
fugir, ao menos por enquanto, já que o vilão vira um contrabandista na cadeia e
trama uma nova fuga. E acreditamos que ele nunca conseguirá. Já o desfecho de
Tonho da Lua é muito diferente do que eu imaginava para o personagem: ele não
termina a trama com a Alzira, a empregada que se apaixona por ele e que passa a
novela inteira sonhando com o momento em que Tonho reconhecerá o seu amor.
Alzira é boa, carinhosa e cuida dele até mais do que Ruth, mas não é ao lado
dele que está seu destino, porque Tonho encontra a felicidade ao ir embora de
Pontal com o circo que passa pela cidade... e ele se sente realizado em meio à
arte circense, deixando a pobre da Alzira desolada. Por outro lado, é melhor
assim, porque ele a amava, sim, mas não da maneira como ela tanto queria.
E eu acho esse desfecho
maravilhoso para o personagem, porque Tonho está feliz, e ele encontrou o seu
lugar.
Malu e Alaor
“Foi quando o meu pai me disse:
Filha, você é a ovelha negra da família”
Um casal memorável de “Mulheres
de Areia”. Malu e Alaor passam a novela toda em pé de guerra, e é
somente aos 45 do segundo tempo que eles se acertam pra valer. É certo
que algumas questões envolvendo a trama de Malu e Alaor não envelheceram muito
bem, porque Alaor tem algumas atitudes com Malu que seriam questionáveis nos
dias de hoje. Mas eu não quero problematizar trama antiga, até porque já foi,
já passou, e não tem como voltar atrás, sem falar que o estilo peão rústico com
pegada forte fazia parte de uma boa parte do imaginário feminino da época,
prova disso é o sucesso do casal na novela. Malu é a rica rebelde com causa que
vive aprontando com o pai, o vilão Virgílio Assunção, e tudo por vingança,
porque Virgílio, não aceitando o seu romance com Gilberto, fez com que o noivo
da filha fosse parar na cadeia por envolvimento com drogas, e, lá, Gilberto
tirou a própria vida.
E tudo isso fez com que a rebelde
passasse a odiar o pai, eternamente, e com razão.
Sendo assim, sempre que pode, Malu
não perde uma oportunidade de vingança, aprontando todas para envergonhar o
pai, ridicularizá-lo e deixar o vilão em maus lençóis. Além de embates
incríveis entre os dois, é divertido assistir as coisas que Malu apronta, como
encher a casa de pessoas em situação de rua em pleno jantar de aniversário de 35
anos de Clarita e Virgílio, um jantar que ela mesma organiza com essa intenção,
a de levar pessoas famintas para tirar a barriga da miséria. Então, ela perde a
mesada e vai para as ruas pedir esmola, e isso vira uma manchete daquelas (rs).
Sem falar na vez em que ela decide posar nua e envia um “telegrama falado” com
várias garotas entregando sua revista durante uma reunião na mansão dos
Assunção. São muitos embates, vários desentendimentos, inúmeras brigas. Essa
Malu é mesmo do babado (hahahahaha). E tudo o que ela apronta é NOTÍCIA.
Já Alaor é o peão da fazenda dos
Assunção, que acaba se apaixonando pela patricinha rebelde e embarcando com ela
numa louca história de amor. Os destinos de Malu e Alaor se entrelaçam de vez
quando ela, para se livrar de uma tentativa de Virgílio, de mandá-la para um
colégio interno no exterior, inventa que engravidou de “caubói”, e ele entra na
onda dela e os dois acabam num casamento que era para ser de fachada, onde Malu
conseguiria se livrar dos desmandos do pai e alcançasse sua liberdade – adoro o
Alaor entrando na dela e defendendo Malu de Virgílio sempre que necessário,
enfrentando o vilão e jamais abaixando a cabeça para ele. E ela zomba de todos
que acreditaram que estava grávida ao revelar que não havia bebê nenhum na festa
de casamento – coisas de Malu. Assim, temos momentos divertidos quando Alaor
troca as passagens de lua de mel para Nova York
por duas para participar de um rodeio em Presidente Venceslau – vacilou,
Alaor (rs).
Alaor acaba levando o casamento a
sério demais e, mesmo apaixonados um pelo outro, ambos insistem em não declarar
esse amor.
Juntos, eles passam por problemas
financeiros, momentos difíceis na relação dos dois, tentativas de conquistas e
muitos perrengues, porque Malu não nasceu para ser dona de casa - vocês já
podem imaginar as divertidas cenas em que ela precisa fazer a linha esposa que
entende de serviços domésticos, não é mesmo? (rs) E os conflitos entre eles só
cresce, porque ela é muito livre e ele um mandão. Logo, eles terão que aprender
muito um com o outro para chegarem à felicidade. Eles são como duas feras que
precisam ser domadas pelo amor. No meio desse turbilhão de sentimentos, Marcos,
Carola e Alaor aceitam executar um plano para que Malu sinta ciúmes do caubói e
se revele apaixonada por ele: Carola e Alaor fingem uma aproximação e isso faz
com que Malu fique nervosa com a situação (hahahahaha). Depois de pegar dicas
de sedução de um livro e conseguir seduzir Alaor dançando como odalisca, ela se
declara para ele, só que ele não acredita nela e pensa que é mais um de seus
trambiques. E essa relação estava longe de chegar num acerto.
Quando os dois vão morar na
fazenda, eles continuam com uma relação cheia de provocações, afrontas e
ataques. Grávida, Alaor não acredita que Malu realmente possa estar esperando
um filho dele, e ele é cruel com ela em alguns momentos. Além disso, ela também
enfrenta as vilanias de Luzia, a agregada que é apaixonada por Alaor e que,
naturalmente, odeia Malu. Então, Luzia apronta diversas vezes para prejudicar a
rival, como soltar uma cobra para picar Malu, tentar jogar água quente na
inimiga, uma ave para assustar Malu e fazer ela perder o bebê e sabotar a sela
do cavalo para provocar um acidente, o que faz Malu cair do animal, além de
também envenenar os animais da fazenda para que a culpa caia sobre a rival. Mas
os planos de Luzia são descobertos e Alaor a expulsa da fazenda. E é nessa reta
final da novela que eles finalmente se acertam, com ele feliz porque vai ser
papai e compreendendo que “a beleza do cavalo selvagem e ser livre”, e ela
entendo o jeito rústico de seu caubói.
E é claro que eles teriam um final
feliz. Eles realmente formam um casal querido do público.
“MULHERES DE AREIA” é uma novela com tramas
inesquecíveis.
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