O bicentenário da independência do Brasil

Você saberia dizer quem realmente arquitetou a independência do Brasil?

Hoje o Brasil está completando dois séculos de independência, e, como historiador e blogueiro, eu não poderia deixar esse momento passar em branco. É bem verdade que não há muito o que se comemorar em relação a isso, pois o Brasil tem vivido tempos sombrios demais para celebrações, mas eu prefiro não entrar nesses detalhes que todos nós sabemos bem quais são. Recentemente, me formei em História, e o meu trabalho de conclusão de curso, o famoso e temido TCC, foi sobre uma das personagens históricas mais importantes da historiografia brasileira e mais influentes na política do Brasil: Carolina Josefa Leopoldina Fernanda Francisca de Habsburgo-Lorena, arquiduquesa da Áustria, primeira esposa de D. Pedro I e a primeira grande Imperatriz do Brasil.

Infelizmente, em um país tão machista, misógino e sexista como o Brasil, a história da nossa nação invisibilizou por décadas a trajetória da mulher que arquitetou a emancipação do Brasil em relação a Portugal – Estão passados? Sim, meus queridos, quem definitivamente fez o babado todo acontecer foi uma mulher… e que mulher! É triste ver que um homem, D. Pedro I, tenha levado praticamente todo o crédito pela independência do Brasil quando, na verdade, foi sua esposa quem decidiu por acabar com a opressão que Portugal exercia. É claro que há muito mais por trás deste capítulo da nossa história, e eu estou falando de algo tão importante de um ponto de vista muito simples e bastante resumido.

Para conhecer melhor sobre o assunto, e se aprofundar neste episódio da história brasileira, recomendo a leitura que foi a principal fonte de pesquisa de meu trabalho de conclusão de curso, o romance biográfico A Carne e o Sangue: A Imperatriz Dona Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos, da renomada historiadora Mary Del Priore. E eu tenho a plena certeza de que vocês não vão se arrepender de ler esta obra, porque este livro, além de nos envolver em uma leitura agradabilíssima, nos faz mergulhar na política brasileira das primeiras décadas do século XIX, descortinando conflitos políticos, intrigas da corte e um dos triângulos amorosos mais polêmicos da nossa história: aquele que envolveu a Imperatriz Leopoldina, D. Pedro I e Domitila de Castro, a Marquesa de Santos. Gente, é muito importante conhecermos a nossa própria história, compreendê-la e sabermos os motivos pelo qual o Brasil se transformou no país de hoje… um país que necessita urgentemente de muitos reparos.

Mas por que a figura da Imperatriz Leopoldina foi tão importante para o processo de independência do Brasil? Graças aos estudos de gênero e aos estudos das mulheres, a personagem histórica da Imperatriz Leopoldina (assim como tantas outras mulheres que merecem ter suas histórias contadas) voltou a ganhar visibilidade. Basicamente, respondendo de forma bem sucinta à pergunta deste parágrafo, D. Leopoldina, após se casar com D. Pedro I, veio morar no Brasil, e no contexto histórico em que se encontrava a então colônia de Portugal, com a exigência portuguesa de que D. João VI retornasse para seu país de origem, Dom Pedro assume o trono do Brasil como príncipe regente. E é aqui que as tensões políticas começam a se alastrar e a deixar o Brasil em um constante sinal de alerta.

Com o Brasil politicamente dividido, com algumas diferenças em relação à independência, mas, num contexto geral, exigindo o rompimento do Brasil com Portugal e a permanência de D. Pedro em terras brasileiras, o futuro primeiro Imperador do Brasil viajaria até São Paulo a fim de apaziguar os ânimos dos paulistas, preparados para um motim e não mais querendo receber ordens da sede do governo no Rio de Janeiro. Buscando também o apoio político das elites de São Paulo, D. Pedro deixaria Leopoldina como regente do Brasil enquanto estivesse ausente do Rio de Janeiro. Nesse meio tempo, Portugal estava preparado para exigir que o príncipe regente e sua família retornasse, à força, para Portugal, para assim recolonizarem o Brasil. Diante desse conflito e à frente do Brasil, D. Leopoldina reúne o Conselho de Estado e assina o decreto que declarava o Brasil separado de Portugal, em 2 de setembro de 1822.

Dias depois, no famoso 7 de setembro, chegava a D. Pedro, em São Paulo, notícias da situação política do Brasil em relação a Portugal. Então, tudo o que o príncipe regente precisava fazer era formalizar o ato de independência, aquele conhecido grito da independência – “Independência ou morte”, às margens do riacho do Ipiranga. E assim a história foi se perpetuando, valorizando tão somente o ato de D. Pedro e invisibilizando a forte, corajosa e importante atuação política da primeira Imperatriz brasileira à frente do país. Ela foi uma grande mulher! Inteligente, culta e muito bem-educada para governar, com grande conhecimento político, D. Leopoldina entrou para a História como a austríaca que adotou o Brasil como sua terra e fez pelo país o que talvez nenhum brasileiro ou português tivesse feito. Consegue compreender agora o porquê de ela ser tão importante, e o quão importante é falar sobre uma mulher tão influente na nossa política?

Em março de 2017, a Globo estreava a novela das seis Novo Mundo, dos criadores Thereza Falcão e Alessandro Marson, uma novela que tinha como pano de fundo o processo de independência do Brasil. E eu nem preciso falar que, como historiador, eu adorei a novela. Mas o que eu mais amo em Novo Mundo é a atuação visceral de Letícia Colin como D. Leopoldina. A entrega da atriz, e seu mergulho na vida da personagem histórica, fizeram de sua Leopoldina a personagem de maior destaque na trama. Foi impossível não se emocionar, sorrir e se encantar pela austríaca que lutou pelo Brasil. Uma atuação de milhões! A interpretação de Letícia Colin era tão convincente, que a atriz nos cativava e nos envolvia em todos os dramas da personagem, a arquiduquesa que foi tratada com preconceito pela corte por ser uma estrangeira, mas que terminou amada e venerada por todos por conta de seus atos em prol do Brasil.

Uma maravilha de interpretação. E eu não consigo ver outra atriz que pudesse representar tão brilhantemente esta personagem tão querida do Brasil que não fosse Letícia Colin. Ela arrasou e arrebatou os nossos corações com sua Leopoldina. E, para mim, será sempre um prazer falar dessa personagem histórica que está longe de ser perfeita, mas tão perto de ser amada. Para mais detalhes sobre a trajetória da Imperatriz, e do processo de independência do Brasil, leiam A Carne e o Sangue e assistam Novo Mundo (rs). É sério, vocês não vão se arrepender. Mergulhe na história do Brasil você também.

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