O Outro Lado do Paraíso (As Vinganças de Clara) – Clara se vinga de Samuel



“Acha que não merece castigo? Esqueceu da lei do retorno, Dr.? Tudo o que vai volta!"
REALMENTE A VINGANÇA É UM INGREDIENTE MARAVILHOSO DENTRO DE UMA NOVELA… assim como protagonistas que possuem este tipo de sentimento são bem mais interessantes! Porque eles se aproximam mais de um ser humano não-ficcional, uma vez que pessoas também são suscetíveis a esse tipo de vontade. Afinal de contas, quem nunca pensou em se vingar, ainda que não tenha concluído essa vontade, ou até se arrependido de ter ido até o fim, caso tenha executado tal desejo? Enfim! O fato é que o assunto “vingança” funciona quase sempre muito bem em uma trama, e nós amamos as mocinhas se vingando de seus inimigos, não é mesmo? Isso é fato! Na verdade, em uma novela, as protagonistas vingativas são mais uma “espécie” de justiceiras do que propriamente alguém que quer o mal do próximo. Por isso, fica bem mais fácil torcer para que elas consigam seus objetivos… e depois tem toda aquela discussão, lá no fim da trama, sobre ter valido a pena ou não ter sido uma pessoa vingativa… mas isso fica para depois, como eu disse: “lá no fim da trama”.
Bem, dá pra sacar que VINGANÇA abre um grande leque de discussões, além de pôr bastante em xeque o caráter do ser humano. Sendo assim, vamos deixá-las – as discussões sobre o assunto – somente para a Clara mesmo, ou seja, para “AS VINGANÇAS DE CLARA”, e que cada um analise seu perfil psicológico, e o da personagem, de acordo com o que acha mais justo – eu, por exemplo, adoro protagonistas vingativas numa novela. As histórias ficam bem mais movimentadas com elas! Quem aí não se lembra da Nina, de AVENIDA BRASIL, e sua eterna rivalidade com a maravilhosa Carminha, ou então da Ana Francisca, em CHOCOLATE COM PIMENTA, com sua sede de vingança contra todos aqueles que a humilharam no passado, hein? Elas eram fantásticas, não? E com Clara não é diferente. A anti-heroína de O Outro Lado do Paraíso incendiou a trama com seus planos de vingança, e fez o Brasil parar para assistir a cada uma delas – uma lista até grandinha… e a cada vingança, uma bela vitória!
Depois de se vingar de Gael – uma vingança que eu considero como sendo “extra”, porque na real/oficial lista de Clara continham os nomes do psiquiatra, do delegado, do juiz, e, é claro, o da vilã-mor, Sophia –, ela já tinha o próximo de sua lista: Samuel, o psiquiatra que ajudou Sophia a drogá-la para conseguir sua interdição naquele hospício – e esse foi outro momento maravilhoso da personagem de Bianca Bin na trama. Eu amava as cenas de Clara trancafiada dentro do Santa Justina… logo, ela precisava de algo que o comprometesse, para dar início à sua vingança contra aquele que assinou um laudo declarando que ela era louca. Então, Clara passa a desconfiar de que Samuel tem uma vida dupla gay – por conta das informações, e também desconfianças de Renato, que o havia visto algumas vezes com Cido, o motorista de Sophia, e aquilo não lhe pareceu algo normal –, mas, por um momento, ela acaba achando que seu pensamento foi um engano, porque Samuel, aparentemente, era apaixonado por Suzy e queria ter filhos com ela, embora isso não significasse que ele não fosse gay.
Assim, ela conta com a ajuda de Patrick, que não gosta muito de vê-la envolvida nessas coisas de vingança, e Renato, que se propõe abertamente a ajudá-la em seu plano. E é Renato quem descobre que Samuel possui um flat para “visitas íntimas”, então ele conta tudo a ela, que apenas esperava por uma confirmação do que já desconfiava para executar sua vingança… tudo começa quando Clara se aproxima da família de Samuel para descobrir algo sobre ele, e quando ela aceita aquele jantar em sua casa, ele ainda não está lá, e inventa a velha desculpa de uma reunião de trabalho, quando Suzy liga para ele, e ele está no flat com Cido… daí, ela viu o suposto carinho dele com a esposa, achou que estava enganada quanto à vida dupla dele e etc… Mas depois da descoberta de Renato, tudo o que ela queria era desmascarar o psiquiatra, e fazê-lo passar por uma grande humilhação. E ela consegue!
Mas num primeiro momento, a vingança de Clara não é completa, porque Suzy não pôde atender ao convite dela para um jantar fora, juntamente com Adneia… assim, o plano de levar esposa e mãe até o flat para um flagra só é possível com uma delas, Dona Adneia. E Clara não desiste do flagrante, porque ela não quer perder tempo, e ter a mãe de Samuel, naquele momento, já era um bom início de vingança. Então ela a leva até o flat, com uma desculpa de que precisa passar na casa de uma amiga antes do jantar… assim, Adneia acaba flagrando Samuel em uma situação bastante constrangedora – de lingerie, em cima de uma cama –, depois que Cido abre a porta pensando que era o entregador de lanches que eles esperavam… então Adneia leva um choque, e desmaia com uma cena forte demais para ela. E Clara tenta ajudar, porque aquilo não estava em seus planos. Mas Samuel a expulsa, e abraçado à mãe, em prantos, ele se pergunta “porque Clara fez aquilo com ele”.
Porém, as coisas entre mãe e filho logo se resolvem – em uma cena que eu considerei emocionante – porque, lá no fundo, toda mãe sabe quem é seu filho… Samuel tenta convencê-la de que aquilo que a mãe viu foi uma brincadeira, mas Adneia ainda “sabe a diferença entre uma calcinha e uma cueca”. E quando ela pergunta se ele consegue ser de outro jeito, Samuel revela suas tentativas frustradas de ter tentado ser heterossexual… assim, ele não precisa dizer muita coisa, e Adneia não o rejeita e nem nada do tipo, pois ele continua sendo seu filho, e os dois choram juntos. Depois, Samuel vai tentar conseguir o perdão de Clara, quando ele a visita em sua mansão para uma conversa – “Dr. Samuel! Não me surpreende essa sua visita. Eu já esperava por ela!”. Então, Samuel pede para que Clara esqueça o que ele fez com ela no passado, e quando ele questiona o porquê de ela estar fazendo tudo aquilo – tentando o humilhar –, ela ri!
Clara é sádica, cruel e irônica ao mesmo tempo, e depois de jogar umas verdades na cara dele – “Você não tem noção do que fez, não? Não se faça de inocente, Dr.” –, ela demonstra que não haverá perdão. Então ela fala, cinicamente, que depois que se divorciou, começou a passar mal, a ter surtos, delírios, e que descobriu que só poderia ter aqueles sintomas se tivesse tomado algum remédio psiquiátrico, remédio que certamente ele havia fornecido à Sophia, e que por conta disso foi parar num hospício – “como pode ver, o senhor já me fez muito mal”. E não há piedade em Clara. Ela não se comove com aquele desesperado pedido de perdão, de joelhos, implorando para que ela não faça mais nada daquilo (um outro flagrante) novamente. E eu adoro como ela o tem nas mãos – “Acha que não merece castigo? Esqueceu da lei do retorno, Dr.? Tudo o que vai volta!”. Logo, Samuel não está mais disposto a se ajoelhar perante ela, porque seu plano de “destruir a família dele não funcionará, pois sua mãe o aceitou, e sua esposa o ama”. E é bem ridículo como ele enfrenta Clara dizendo que é um “Tigrão”.
Assim, ela dá continuidade a seu plano, porque ainda falta Suzy descobrir quem de verdade é seu esposo. E a mocinha vingativa consegue levar Suzy até o flat, depois que a convida para um lanche, com a mesma desculpa que usou com Adneia: de que precisava passar na casa de uma amiga antes… e Suzy acaba reconhecendo o prédio – porque era ali, antes de se casar com Samuel, que ela se encontrava com ele. E ela também acha estranho Clara ter as chaves do lugar. Assim, Suzy e Clara entram no flat, e enquanto a enfermeira vê Cido, seminu, em cima da cama, outra cena constrangedora estava por vir: Suzy flagra o marido, vestido de mulher, fazendo uma performance à la Drag Queen, dublando aquela canção em espanhol. Então Samuel quer matar Clara, porque ele não acredita que ela tenha feito aquilo de novo. E depois de toda aquela cena vexatória, ela solta sua gargalhada de vitória – aquela que eu adoro – e deixa o circo pegando fogo! Porque Suzy está furiosa, e ela arma o maior escândalo, esbofeteando, toda descontrolada, Samuel, e até agredindo Cido, que tenta contê-la.
E ao mesmo tempo que tudo aquilo é constrangedor para ambos os lados, é também doloroso, e não há como não se comover com Suzy sentindo o peso de uma traição como aquela. Então, ela ofende Samuel, aos berros, porque ela está ferida – Gay! O meu marido é gay. Bicha! Uma bichona! E depois cai em prantos. A verdade é que Samuel não precisaria ter passado por nada daquilo se tivesse assumido sua orientação sexual. Mas nós também sabemos que os dilemas de um gay perante uma sociedade machista e uma família que espera dele um casamento e filhos são bem complexos. E Clara não teria feito nada daquilo se Samuel não a tivesse prejudicado tanto, porque cada um tem o direito de determinar sua hora de SAIR DO ARMÁRIO. E isso só Samuel poderia decidir. E o problema nunca foi ele ser gay, porque isso não é, nunca foi, e jamais será problema. O problema foi o fato de Samuel ter envolvido e prejudicado outras pessoas em sua decisão de não se revelar – Clara e Suzy –, e com isso ele acabou ferindo Suzy, se casando com ela para manter sua aparência, depois a traindo e a enganando… ninguém merece isso.
Com Clara, ele acabou ajudando Sophia a cometer uma crueldade. E tudo porque a vilã o ameaçou, ainda que sutilmente, de revelar sua condição sexual para todos, porque ela sabia que Samuel havia tido um caso com um de seus jardineiros… então, por medo, ele se viu obrigado a ajudá-la, mesmo não querendo, pois aquilo ia contra sua ética e moral profissional. Mas diante de tudo isso, ele só pensou nele mesmo, e deu a droga que Sophia precisava para fazer Clara se passar por louca. E a questão maior era que essa ajuda dele para com Sophia estava colocando a vida de uma pessoa em risco total. Bem, depois de descobrir tudo, Suzy não quer mais estar casada com uma “tigresa… tigrete”. E ela decide se separar, enquanto Samuel lhe faz aquela proposta ridícula de continuarem com o casamento em sociedade, porque “ele promete dar a ela uma vida de rainha”, e ele ainda fala que pode ser o “tigrão” novamente. E eu não pude deixar de rir com a Adneia tentando ajudar Samuel a convencer Suzy, porque seu filho “era só um pouquinho gay”.
Assim, Suzy está arrasada, e ela faz suas malas e vai embora, porque não tem acordo nenhum… no hospital, Clara aconselha que ela desabafe, e a influencia a colocar tudo pra fora – e aquele ombro amigo foi até sincero, porque ela notou que sua vingança atingiu alguém que não merecia aquilo, e estava se sentindo meio culpada, embora quisesse um último escândalo em público. Assim, Suzy não se contém quando vê Samuel, e arma o maior barraco, acabando de vez com qualquer reputação dele, porque decidiu “colocar a boca no trombone”. E aqui eu preciso ELOGIAR MUITO Ellen Rocche, suas veias saltando; seu rosto vermelho; sua voz já rouca de tanto gritar, e o desequilíbrio de sua personagem em cena, trouxeram uma veracidade incrível para a interpretação da atriz. A cena era dela! E para quem pensava que Ellen só servia para fazer papel de gostosona, quebrou a cara! Suzy se descontrola, e não se importa em passar pela humilhação da esposa traída com outro homem. Tudo o que ela quer é vomitar sua raiva, sua mágoa, e sua revolta…
Então, ela grita, esbraveja, e revela para todos que o marido é gay, que o flagrou de calcinha com outro homem, e que ele é uma “TIGRESA”, uma “TIGRETE”. Logo, Samuel é envergonhado diante de todos… e aquele é o único momento em que Clara reflete sobre o que fez, porque o estado de Suzy a comove. Mas Renato a conforta, porque, afinal de contas, ela libertou Samuel, e agora ele não vai mais precisar viver uma farsa. E eu compartilho do mesmo pensamento dele: no fim das contas, Clara acabou ajudando Samuel a ser livre! Dessa forma, Renato a questiona sobre o gosto da vitória, e Clara conclui que ela tem um gosto amargo. Depois de tudo, Samuel decide enfrentar o mundo. E enquanto toda Palmas comenta sobre o escândalo, ele agora só quer ser quem sempre foi, sem nenhuma máscara cobrindo o seu rosto… assim, Clara concluiu sua oficial primeira vingança.
NEXT!

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