Hoje é dia de 400 – As Helenas de Manoel Carlos!
“Para
as minhas Helenas, tão admiravelmente vividas por atrizes queridas, o meu
agradecimento pelo brilho que deram ao meu trabalho. Com o amor da minha
amizade e carinho”
– Manoel Carlos
É
com imenso prazer e carinho que eu comemoro as 400 postagens do “Hoje é dia de NOVELA” falando sobre as
Helenas de Manoel Carlos, essas personagens tão incríveis e emblemáticas que
viraram uma marca do autor e que ainda hoje fascinam a teledramaturgia
brasileira, afinal de contas, as Helenas são eternas! E elas sempre terão um
lugarzinho especial em nossos corações, até porque quantas emoções nós vivemos
com elas, não é mesmo?
Manoel Carlos, carinhosamente conhecido como Maneco, é um dos melhores autores de novelas que nós temos, e ninguém conseguiu enxergar tão bem quanto ele a alma feminina a ponto de nos presentear com protagonistas tão intensas. Porque assim são as Helenas do Maneco, mulheres fortes e ao mesmo tempo frágeis, cheias de qualidades, mas também cheias de defeitos… e é isso que fazem delas mulheres tão humanas. Mulheres tão maravilhosas!
Ao
contrário do que muita gente pensava, ou talvez ainda pense, a inspiração de
Manoel Carlos para criar suas Helenas não veio de nenhum laço familiar, de
amizade, de nenhum amor de sua juventude ou coisa assim… sua maior inspiração veio
de uma grande personagem da mitologia grega: Helena de Troia, a filha do deus
Zeus e da rainha Leda, que tinha a reputação de mulher mais bela do mundo. Sendo assim, fica fácil entender porque
as Helenas do Maneco sempre foram belíssimas, interessantes e muito atraentes,
não? E somando essas qualidades ao jeito delicado, sensível e humano da escrita
de Manoel Carlos, tivemos grandes protagonistas que marcaram época, nos
emocionando e nos fazendo criticar suas atitudes por conta de seus erros e
acertos. Afinal, elas são tão próximas do real que até parecem de verdade. Por
isso, e por muito mais, muito obrigado, Maneco! Muito obrigado por dar vida a
essas grandes personagens que para sempre permanecerão vivas em nossas
memórias! Você é um grande poeta da dramaturgia!
A Helena de Lílian Lemmertz (Baila
Comigo, 1981)
–
A primeira Helena a gente nunca esquece! Ainda que muitos, assim como eu, nem
sequer pensávamos em existir. Mas todo fã da obra de Manoel Carlos sabe muito
bem o quanto Lílian Lemmertz brilhou como a primeira Helena do autor e o quanto
ela foi importante para as próximas que viriam, numa época em que ninguém sonhava
que as Helenas se tornariam a grande marca do Maneco. Ao lado de grandes nomes
da dramaturgia, como Raul Cortez, Fernando Torres e Tony Ramos, Lílian
interpretou uma sofrida e batalhadora dona de casa que escondia um grande
segredo: ter dado à luz a gêmeos, João Victor e Quinzinho (Tony Ramos), e
abandonado um deles com o pai, Joaquim Gama (Raul Cortez). E é claro que esse
segredo renderia à trama fortes emoções, com tudo vindo à tona e Helena tendo
que arcar com as consequências de seus atos. Verdadeiramente um papel marcante
na carreira de uma grande atriz que, infelizmente, nos deixou cedo demais.
A Helena de Maitê Proença (Felicidade,
1991) – Dez anos depois de “Baila Comigo”, cá estava a segunda Helena de Manoel Carlos, para
homenagear Lílian Lemmertz e dar início, oficialmente, ao ciclo das Helenas. A
Helena de Maitê Proença tinha ares de
singela, ao mesmo tempo em que era progressista e ambiciosa. Uma jovem simples do
interior mineiro que almejava uma vida melhor na cidade grande, o Rio de
Janeiro. Helena acaba se apaixonando por Álvaro (Tony Ramos), um empresário
comprometido com a dondoca e possessiva Débora (Viviane Pasmanter), e em meio a
tantas reviravoltas, enquanto ele segue com Débora, Helena se casa com o
engenheiro agrônomo Mário, em busca de uma vida melhor, forjando até uma
gravidez para satisfazê-lo – pra quê que a gente quer uma mocinha politicamente
correta quando podemos ter uma incorreta, hein? Mais adiante, no Rio de
Janeiro, Helena reencontra Álvaro e eles se entregam ao amor, mas por conta
das armações de Débora, o romance entre os dois é interrompido e Helena esconde,
até o fim da novela, que teve uma filha de Álvaro: Bia.
Assim,
até verem a felicidade chegar, Álvaro
e Helena enfrentam as vilanias de Débora. Mas, no fim das contas, tudo dá certo
e eles vivem felizes para sempre. Com uma bela atuação de Maitê Proença, a
Helena de “Felicidade” é uma
protagonista e tanto.
As Helenas de Regina Duarte (História
de Amor, 1995; Por Amor, 1997, e Páginas da Vida, 2006)
– Regina Duarte foi a atriz que mais viveu na atmosfera das Helenas de Manoel
Carlos, foram três heroínas do autor em três novelas de grande repercussão. Em “História de Amor”, uma novela
apaixonante do início ao fim, a atriz se entregou a uma protagonista doce,
sensível e batalhadora, que, assim como em “Felicidade”,
também era apaixonada por um homem comprometido com uma mulher possessiva. Mas
foi em “Por Amor” que Regina Duarte interpretou
sua Helena mais polêmica e emblemática. Ao lado da filha Gabriela Duarte, sua
filha também na ficção, essa Helena tinha um toque a mais de realidade, porque
era prazeroso ver mãe e filha repetirem, na TV,
seus papeis na vida real. Num ponto crucial da novela, ambas as personagens
engravidam e dão à luz, juntas. E, então, num ato impensado de amor, Helena
troca os bebês ao saber que o neto não sobreviveu. É uma cena inesquecível da
teledramaturgia brasileira, além de uma trama maravilhosa que rendeu um segredo
a ser revelado somente no último capítulo da novela, com o público ansioso pelo
seu desfecho depois de ter refletido e julgado se o ato da protagonista era
somente de amor, ou se também era um ato de crueldade.
Já
em “Páginas da Vida”, tivemos uma
Helena um pouco menos interessante, já que seus conflitos amorosos não eram tão
entusiasmantes assim, porque o que mais prendia o telespectador à sua
história era a luta que a personagem enfrentaria para ficar com a guarda de sua
filha adotiva contra o pai biológico da pequena Clarinha, uma criança com
Síndrome de Down que foi rejeitada pela avó e que a protagonista acolheu com
todo o amor e carinho. Uma trama envolvente que contribuiu muito para que o
preconceito contra pessoas com a síndrome acabasse. E era uma delícia ver Joana Mocarzel em cena. Ela encantava todo mundo. Uma simpatia de criança que deu o maior show de carisma e fofura (S2). Eu não me cansava de ver a Clarinha toda vez que ela surgia na telinha.
A Helena de Vera Fisher (Laços de
Família, 2000) – Ahhhhhh, A MINHA HELENA FAVORITA! Vera Fisher,
ainda no auge de sua beleza, nos entregou uma Helena linda, sensual, elegante, capaz
de enlouquecer qualquer homem de qualquer idade. Uma mulher forte, altruísta… uma
protagonista fascinante! Como sempre, o Maneco não errou ao escolher Vera Fisher para
viver o papel. A Helena de “Laços de
Família” tinha que ser ela. No início da trama, eu torci para que Helena e
Edu fossem felizes num amor capaz de romper preconceitos pela diferença de
idade entre eles. E eu detesto Edu e Camila quando eles a fazem sofrer, porque,
sim, ambos foram “Judas” com Helena. E, então, sofremos com ela que, num ato de
maturidade e amor, se afasta de Edu para que sua filha seja feliz. Assim, quando
Helena descobre sobre a doença de Camila, mais uma vez a vemos ter que
abandonar um amor, o de Miguel, para engravidar de Pedro, o verdadeiro pai de
Camila, para salvar a vida da filha que precisa de um transplante de medula.
Logo, é assim que um segredo guardado por anos vem à tona, e Helena não pode
mais esconder sobre a verdadeira paternidade de Camila. É uma Helena incrível,
que eu não me canso nunca de relembrar.
A Helena de Christiane Torloni
(Mulheres Apaixonadas, 2003) – Mais uma Helena
maravilhosa! Considerada a mais politicamente incorreta das Helenas do Maneco,
Christiane Torloni estava muito bem no papel. Porém, com tantas personagens
femininas interessantes na novela, em tantas tramas igualmente interessantes,
ficou um tanto quanto difícil se importar com a trama de uma protagonista que
traiu o marido na lua de mel e, depois de 15 anos de casamento, decidiu reviver
seu amor com o médico César (José Mayer) por estar cansada da rotina de seu
relacionamento. Sendo assim, a Helena de Christiane deixa de ser um pouco
protagonista diante das demais tramas envolventes que o autor criou, afinal de
contas, todas as mulheres dessa novela são apaixonantes, não? Mas se você separa
a trama de Helena das demais, você consegue enxergar o quanto ela é maravilhosa,
parceira, amiga, boa irmã e boa mãe, e o quanto Manoel Carlos acerta mais uma
vez em criar uma Helena. Uma mulher cujos motivos para ser tão politicamente incorreta aprendemos a compreender.
A Helena de Taís Araújo (Viver a
Vida, 2009) – Uma Helena que gerou muitas expectativas
quando foi anunciada, por ser a primeira protagonista negra do ciclo das
Helenas e também a mais jovem… mas, infelizmente, essa Helena não foi muito bem
aceita pelo público. E ela não vingou. E jamais poderemos dizer que a culpa foi
da Taís, porque ela é uma atriz talentosíssima e muito carismática. Neste caso,
o roteiro do Maneco não colaborou para o crescimento da personagem. O que foi
uma pena, porque essa era para ter sido uma Helena memorável. Bombardeada pela
crítica, essa foi uma experiência traumatizante para Taís Araújo, que depois de um
longo período aprendeu a fazer desses limões uma limonada. Acontece que a
Helena de “Viver a Vida” foi a
protagonista certa num momento errado, já que o Brasil "não estava preparado"
para ver em cena uma protagonista negra que era bem-sucedida profissionalmente, já que o preconceito ditava que era necessário uma explicação do porquê de ela estar em uma posição de destaque na
sociedade.
Somado
a isso, ainda tinha o fator zero química
que a Helena da Taís tinha com seu par romântico, aqui, mais uma vez, o José
Mayer. Além de também passarmos a novela inteira vendo essa Helena se culpando
por ser a responsável pela personagem de Alinne Moraes, Luciana, ter ficado
tetraplégica, sem que ela fosse culpada. E isso rendia cenas em que Helena
estava sempre mendigando o perdão de uma branca e se submetendo a humilhações para
ganhá-lo. Com o público atribuindo essa culpa à protagonista, a trama da
supermodelo internacional acabou flopando,
enquanto a trama de Luciana ganhava, cada vez mais, o protagonismo da novela. Infelizmente,
eu só tenho a dizer que eu ainda fico muito triste que essa Helena não tenha
sido uma protagonista de sucesso.
A Helena de Júlia Lemmertz (Em
Família, 2014) – A última Helena de Manoel Carlos era
para ser inesquecível. Convidada pelo autor para homenagear e encerrar um ciclo
que começou com sua mãe, Lílian Lemmertz, a Helena de Júlia também flopou. Em uma trama que teve três fases,
buscando mostrar ao público os conflitos de uma Helena jovem até chegarmos em
sua vida adulta, e um enredo muito lento e morno, a protagonista pereceu ficar
perdida e não conseguiu ganhar a simpatia dos telespectadores. Praticamente nada
em “Em Família” era interessante,
suas tramas não entregavam o que nós queríamos ver, além de tudo parecer muito
confuso na história. E embora tenhamos notado o grande esforço de Júlia
Lemmertz para entregar uma última Helena que agradasse e homenageasse sua mãe,
infelizmente a protagonista da atriz patinou… e a novela é muito mais lembrada
pelo personagem de Gabriel Braga Nunes, o flautista psicopata, do que pela
trama central de uma Helena que não deixou o público com vontade de acompanhá-la.
E mais uma vez eu fico triste com mais uma Helena flopada, porque esse ciclo merecia ser fechado em grande estilo. E não
podemos culpar a Julinha por isso.
Ainda assim, entre tantas Helenas, algumas melhores que outras, nós sabemos o quanto elas deixaram saudades… e o quanto essas personagens ficaram marcadas na teledramaturgia brasileira. Salve, Maneco!
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