As Bruxas de Salem (The Crucible, 1996)
It’s Halloween again!
Um drama
histórico maravilhoso, instigante e envolvente! Já faz algum tempo que eu
estava planejando assistir “As Bruxas de Salem”
com um olhar mais atencioso para o filme, já que ele é bem antiguinho e na infância eu não tinha o mesmo olhar que costumo ter
hoje sobre uma obra cinematográfica – e não é que eu seja o expert em cinema, mas acredito que como
adulto eu posso dizer que entendo melhor o conceito de um filme (rs). Por isso,
para celebrar mais um Halloween, decidi
que esse clássico do cinema deveria marcar presença por aqui, porque eu adoro
qualquer coisa que faça menção a bruxas. Dirigido por Nicholas Hytner, “As Bruxas de Salem” é baseado na peça
teatral “The Crucible” (nome original
do filme), do dramaturgo norte-americano Arthur Miller que também foi o responsável
pelo roteiro da adaptação – acredito que ninguém melhor que ele para transpor
sua própria obra para o cinema.
Além de uma bela
fotografia que recria muito bem o universo daquela Salem que foi palco de um
dos maiores horrores e injustiças da história dos Estados Unidos do século XVII,
o longa também nos envolve com um bom texto, ótimas cenas e um elenco afiado em
suas atuações, com um destaque mais que especial para Winona Ryder como a
manipuladora, perversa e ardilosa Abigail Williams/Abby, a sobrinha do
Reverendo local que acaba sendo a responsável por enredar a todos os acusados de
bruxaria em sua rede de mentiras e artimanhas para livrar sua pele das acusações…
uma atuação visceral e bastante convincente. Quanto aos momentos mais marcantes
do filme, temos as cenas dos julgamentos e as de histeria coletiva por parte
das adolescentes supostamente tomadas pela bruxaria, cenas que de tão
exageradas e intensas chegam a ser perturbadoras.
A cena
inicial do filme é tudo o que podemos dizer que o longa nos oferece de macabro
e sinistro, já que a linha da narrativa cronológica reafirma que os episódios envolvendo
a suposta existência de bruxas em Salem não passou de consequências de uma
histeria coletiva, onde o fanatismo religioso e a mentalidade puritana e ignorante
dos cidadãos da vila acabaram por acusar mais de 150 pessoas por bruxaria e a
levar outras tantas a serem condenadas à morte… um episódio infeliz que deixou uma
mancha de injustiça na história norte-americana. Mas voltando à cena inicial do
filme, Abby e um grupo de adolescentes estão participando de um ritual na
floresta para conquistarem os homens que desejam quando as coisas saem do
controle após Abby sacrificar um animal e beber de seu sangue.
É uma cena
tensa, que termina com a atitude de Abby causando uma euforia nas garotas e um
alvoroço imenso ao notarem que o Reverendo Samuel Parris, o tio de Abby, está
presente e vendo coisas que ele não deveria ver. Quando a prima de Abby e outra
garota não acordam no dia seguinte, os rumores de bruxaria começam a se
alastrar por Salem… e o pandemônio tem início com a chegada de outro Reverendo
na vila, John Hale, para investigar os casos de bruxaria. Logo, Parris revela a
Hale o que presenciou a respeito de sua sobrinha e de outras garotas na noite
anterior, e um interrogatório acaba fazendo Abby acusar Tituba, a negra escrava
de Barbados que estava com elas na floresta. Dali em diante, o caos se instala
na vila e a histeria coletiva faz com que as garotas comecem a acusar
desenfreadamente pessoas inocentes.
No meio de
tudo isso, temos o triângulo amoroso protagonizado por Abby, o fazendeiro John
Proctor e sua esposa Elizabeth. Quando John decide romper com Abby, por ter
tido uma crise de consciência ou algo do tipo, ela aproveita que é “o dedo de
Deus” para limpar Salem das artimanhas do Diabo e acusar Elizabeth de bruxaria,
tentar recuperar sua relação com John e se vingar de sua rival com quem já teve
problemas… e a narrativa usa desse triângulo amoroso para chegarmos ao
julgamento das bruxas. Particularmente, eu acho que esse artifício poderia ter
funcionado muito bem se a obra em si não tivesse nenhuma relação com fatos
históricos, porque ter colocado a paixão de uma adolescente como um dos motivos
centrais para justificar o horror que foi essa injustiça talvez não tenha sido
a melhor das escolhas, embora esse artifício esteja longe de comprometer o
filme por conta disso.
Outros pontos
que eu considero positivos no longa é a forma com que o roteiro denuncia e
deixa claro os interesses políticos que se beneficiaram com as acusações e condenações
de inocentes por bruxaria, porque a história nos mostra que realmente tais
interesses estavam presentes, além da falha grotesca no sistema de justiça da
época que usava de argumentos fracos para condenar seus acusados. E embora o
filme não tenha se aprofundado tanto quanto gostaríamos na questão religiosa da
coisa – concordo com alguns críticos quanto a isso –, podemos dizer que “As Bruxas de Salem” é uma obra que
envelheceu razoavelmente bem por fazer um link
muito interessante com a atualidade onde movimentos opressores ainda trazem
sérias consequências para a humanidade quando atacam de forma violenta e não são
justos em seus atos. A ignorância religiosa ainda causa muitos estragos, e não só
ela bem como todo e qualquer movimento que está no poder e usa do mesmo para
oprimir e impor suas regras injustas.
E eu gostei de
o fato de o filme ter tocado em questões éticas e morais que nos fazem
refletir.
Por fim,
quando Abby tem sua reputação contestada – e achamos que dessa vez ela vai se
dar mal –, ao ter seu caso com John Proctor exposto por ele mesmo diante da
corte de juízes, num momento em que sua crise de consciência chega ao ápice
para defender a esposa das acusações de bruxaria e revelar que Abby é uma “meretriz”
e ele um adúltero, ela consegue se safar quando Elizabeth depõe e não consegue
confirmar que o marido cometeu adultério… e tanto ela quanto ele são condenados
à forca por bruxaria, enquanto Abby consegue fugir de Salem e nunca ser punida
por suas artimanhas, e ela até tenta levar John consigo, mas ele se recusa a ir
por querer provar sua honra até o fim quanto às acusações. John é um personagem
que representa a resistência diante dos opressores, e ele tem a chance de não morrer
em troca de confessar seu envolvimento com bruxaria, porque sua condenação
representa uma ameaça à corte de juízes por ele ser muito influente em Salem,
mas ele prefere a morte do que se submeter a tal injustiça.
E apesar de
muitos críticos não terem gostado do final do filme, com John e alguns amigos
sendo enforcados enquanto rezam o “Pai Nosso”, eu gostei desse encerramento…
afinal de contas, o mundo é mesmo muito injusto. Te convido a dar uma conferida
em “As Bruxas de Salem” e tirar suas
próprias conclusões. Não é uma obra cinematográfica espetacular, mas é um bom
filme… e eu pretendo assisti-lo outras vezes.
Até uma
próxima postagem especial!
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