Chocolate com Pimenta – Ludovico e Ana Francisca tornam-se grandes amigos




“QUANDO ESTIVER TRISTE E SOZINHO, ME PROCURE. EU FAÇO UM CHOCOLATE BEM QUENTE PRA VOCÊ”
Às vezes uma bela história de amizade pode ser até mesmo mais interessante do que uma de amor. Não é bem o caso de Chocolate com Pimenta – não me interpretem mal. Mas é que ainda na fase inicial da trama, a relação de amizade entre Ludovico e Ana Francisca é igualmente interessante quanto o romance dela com Danilo. Eu prezo muito por boas histórias de amizade, porque eu sempre achei que esse sentimento é a base para qualquer tipo de relacionamento se manter firme. Sem amizade, nenhuma relação anda. É preciso ser amigo antes de tudo… se é que me entendem. E o Ludovico é um personagem maravilhoso. Solitário, e cercado pelo interesse de Jezebel em sua fortuna, ele não vê muito sentido na vida. Porém, quando conhece Aninha, de uma forma inusitada, as coisas começam a mudar para ele. E ele sente que os últimos anos de sua vida podem ter algum alento.
Eu amo como tudo é bem construído para que ele e Aninha se tornem grandes amigos. Assim como amo ver a amizade entre eles crescendo, a ponto de Ludovico salvar – futuramente – a reputação de Ana Francisca de ser manchada pela desonra de ser uma mãe solteira na década de 20. Bem, mas vocês entenderão como isso se deu num próximo texto. Agora, o foco é saber como Aninha e Ludovico viraram amigos. Quando Aninha vai trabalhar na Bombom, porque não acha justo que toda a sua família trabalhe enquanto se esforçam para realizar o sonho dela de estudar, ela acaba conhecendo Ludovico, quando vai lavar o banheiro da diretoria da fábrica e ele está lá, trocando de roupa por conta de uma armação de Jezebel de jogar acidentalmente chocolate quente nele para que ele não examine os papéis de contabilidade da fábrica, porque tinha falcatrua dela naquilo tudo.
A única roupa à disposição para Ludovico era a de um operário. E é um máximo a reação de Aninha, toda assustada e preocupada com ele porque está usando o banheiro da diretoria – “O que você está fazendo aqui? Isso aqui é o banheiro da diretoria... e sem sapatos, vai ficar constipado”.  Ela nem imagina que ele é o famoso Ludovico, o dono da Bombom. Então, ele pergunta, meio rude, se ela “sabe quem ele é”. E ela responde algo sobre “estar trabalhando ali há pouco tempo, e por isso não conhece todo mundo”. Aninha é supercarinhosa com ele, preocupada com o fato de ele poder pegar uma gripe... e ela resolve preparar um chocolate quente para ele, o tratando com doçura e gentileza – aquele jeitinho Aninha de ser nessa fase da trama. E eu adoro o tom meigo e amável que Mariana Ximenes deu a personagem. Ali começava a nascer uma bela e sincera amizade entre eles. E como eu gosto da química dos dois em cena.
Aninha pensa que ele é um funcionário do carregamento da fábrica, e isso a deixa um pouco revoltada, porque ela não acha justo que ele trabalhe naquele setor com a idade avançada que ele já tem. E eles, os donos da fábrica, “deveriam ser mais generosos com ele”. Isso é tão fofo da parte dela, se preocupar instantaneamente com alguém que ela nem sequer sabe o nome. E ela conversa com ele como se já fossem grandes amigos, contando sobre sua vida, sobre como seu pai “trabalhou muito na terra e morreu”. Assim, ela quer saber mais sobre o novo amigo. E Ludovico fala sobre “sempre ter trabalhado muito e nunca ter tido tempo para fazer amizades”. Ele faz aquela carinha de triste que comove Aninha. Dessa forma, ela pensa que ele é alguém sozinho, e se comove com aquilo. De fato, ele é! E a riqueza dele não compra uma amizade verdadeira. E não tem como não achar meigo ela o consolando e colocando um sorriso no rosto dele, pedindo que ele não faça cara de triste.
Então, ela diz coisas, como: “Quando estiver triste e sozinho, me procure. Eu faço um chocolate bem quente pra você”. Tem como não amar Aninha? Não tem. Só dai, depois de muita conversa, e de “saber que ele é um homem triste e sozinho, mas que há sempre uma coisa boa para acontecer na vida”, é que ela pergunta o nome dele. E Ludovico se apresenta apenas pelo sobrenome, “Melo”, porque ele quer ver até onde a bondade espontânea daquela menina pode ir, sem que ela saiba que ele é muito rico – “Sabe, Ana, nunca ninguém demonstrou por mim tanta amizade como você, sem nenhum interesse”. Isso me comoveu. É triste ver a melancolia de Ludovico. Mas a esperança de que talvez tenha encontrado alguém que possa amá-lo como é, e não por seu dinheiro, é contagiante. E a coisa engraçada daquela conversa é que Aninha não gosta daquele nome “Melo”. Então, ela o apelida carinhosamente de “Meninão”. Fofa!
Dali em diante, Ludovico continuaria se disfarçando de funcionário de sua própria fábrica para se encontrar com Aninha, e ter conversas de amigos com ela. E entre xícaras de chocolate quente – que delícia! –, a amizade foi ficando intensa, e os dois se tornando cada vez mais confidentes um do outro. Como quando Aninha revela estar apaixonada por “um príncipe que jamais pensou que olharia para ela” – Danilo –, porque ela “sabe que não tem roupas boas e usa óculos quebrados”… mas ele a conforta, declarando que aquilo não é algo importante. E quando Aninha quer saber se ele já amou alguém, é triste ouvi-lo afirmar que sim, mas que perdeu a mulher muito cedo e não teve filhos, além de declarar que tem uma irmã com a qual não se dá bem, e que “às vezes pensa que o coração está seco”. Dói a tristeza de Ludovico. Mas agora ele tem Aninha para compartilhar os momentos. E ela estava fazendo muito bem a ele.
E ela tenta levantar o ânimo dele, enquanto ele deseja que o rapaz por quem ela está apaixonada não a faça sofrer. Mas não demora muito para que ela vá chorar nos braços de seu amigo, quando sofre por conta daquele plano de Olga de fazer Danilo beijá-la em público, a deixando humilhada. E ele quase coloca sua verdadeira identidade em risco, quando ela teme que Jezebel a encontre de conversa com ele e a demita, e Ludovico diz, convicto, de que não deixará aquilo acontecer… deixando Aninha confusa. Porém, ele consegue contornar a situação. E a consola, dizendo para que ela não fique com raiva, pois “o coração azedo fica duro e perde a capacidade de amar”. Então, daquela vez, foi ele quem preparou uma xícara de chocolate quente para ela. Que meigo! Em um outro momento, ela desabafa com ele, depois que vê Olga e Danilo como namorados e aquilo fere seu coração. E a grandeza que a amizade dos dois ganha é emocionante!
Aninha ainda não tinha noção do quanto Ludovico seria importante em sua vida, a medida em que mais acontecimentos que a fariam sofrer se aproximavam. Definitivamente, o “Meninão” seria aquele que a salvaria de muitas desgraças. E um ajudaria o outro a ter alguns momentos felizes pela frente…

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