DAMÁSIA
É MAIS UMA DAS TANTAS PERSONAGENS DA NOVELA QUE ACABOU SE TORNANDO FIGURANTE –
assim como Marino, Monalisa, Helen, Zelda e mais alguns por aí. Eu continuo
gostando da personagem, e acho que Mário Teixeira sabe muito bem abordar a
questão do NEGRO em seu folhetim. Ele fez maravilhosas críticas usando os ex-escravos para dizer o quanto o Brasil
ainda pensa errado sobre o “lugar” deles - dos negros - na sociedade, e o quanto ainda devemos
muito a eles, por tudo de ruim que nós mesmos os fizemos passar em terras
brasileiras na época da escravidão; época esta que parece não ter acabado
ainda.

Mas
falando de Damásia, é uma pena que a personagem de Aline Dias tenha ficado para
escanteio. Porém, bem antes disso acontecer, ela teve um belo momento na trama,
que vale muito a pena ser comentado aqui. Damásia sofreu os impactos – assim
como os demais ex-escravos – deste
novo século, quando despertou nele e não soube muito bem qual era, de fato, o
seu lugar. E ela teve medo. Então, em sua inocência, ela acabou virando uma
escrava da Coronela, depois que a dona da pensão notou que poderia explorá-la.
E hoje em dia não é muito diferente, não – TEM MUITO NEGRO PASSANDO PELA MESMA
SITUAÇÃO. Mas Damásia terminou percebendo que tinha o seu valor, depois que
decidiu que não seria mais empregada nem de D. Agustina e nem da Coronela. A
bela negra tem um dom: sabe cozinhar como ninguém!
Logo,
ela conseguiu fisgar Elmo pelo estômago, porque ele provou das delícias da
culinária dela, e acabou se encantando, pela comida e por ela – em um dia em
que ele estava péssimo, e a comida que Damásia preparou o fez lembrar de sua
mãe. Daí, entramos na vida amorosa da
personagem, quando Elmo passou a ficar “parado na dela”, como ele mesmo revelou
a Samuca. E sinceramente, essa instabilidade amorosa de Elmo é uma parte
desagradável do personagem que me irritava, com esse lenga-lenga de não saber por quem realmente está apaixonado. Mas
Damásia estava muito mais interessada em sua independência – “porque queria
trabalhar que nem Marocas” –, do que nas investidas de Elmo. E foi até bom eles
nem engatarem nada, porque minha torcida foi sempre por Elmo com Miss Celine!

A
independência de Damásia começou quando ela ajudou Elmo a salvar o restaurante da
Samvita de um dia sem refeições, e mesmo sem entender bulhufas sobre o cardápio, ela arregaçou as mangas e fez tudo
praticamente sozinha, trabalhando como uma condenada, mas com prazer, enquanto
Elmo não aguentou o seu pique e acabou cochilando. E aquele banquete preparado
por ela madrugada adentro, além de salvar o dia, agradou a todos! Assim, ela se
livra de uma vez por todas daquela exploração da Coronela, e da dívida que ela
pensava que tinha que honrar com a mãe de Waleska, por ter colocado sua digital
em um contrato ridículo de trabalho, escrito a mão, em uma folha de caderno,
pela própria Coronela. Absurdo! Então, Damásia, depois de não se sentir capaz,
enfrenta a vida e aceita o emprego, oferecido por Elmo, de Chef de cozinha na
Samvita.
Só
que este emprego lhe traria algumas desilusões, porque ela ainda estava meio insegura
e assustada quanto a muita coisa neste século. E isso a fez não ser bem vista
pelos demais empregados do restaurante, porque também tinha o fato dela ser,
para eles, uma ANALFABETA inexperiente – um preconceito horrível. E o sub-chefe,
por inveja, sabota a refeição do dia, jogando toda aquela pimenta na comida
preparada por ela, para prejudicá-la profissionalmente. Logo, todos os
funcionários reclamam, e Damásia se frustra. Mas Cesária percebeu que algo
estava errado, e ela, Menelau e Cairu acabam dando uma prensa no sub-chefe,
depois que eles o escutam debochando de Damásia. Mas tudo acaba resolvido, com
aquele jeitinho Menelau de ser – que só de olhar para a cara dele já dá medo,
não? (Risos!). Assim, o sub-chefe confessa o seu erro e é demitido.
Porém,
Damásia se sentiu menosprezada e humilhada, porque ela descobriu que todo
aquele acontecimento se deu devido ela ser “preta e analfabeta”, e ela não quis
mais saber de seu emprego como Chef, mas Elmo foi amável, ao lhe dar uma força
e dizer que “ela podia aprender a ler e escrever… que era uma Chef, e que
precisava tomar seu lugar por direito, além de declarar que ela não havia
conseguido aquele emprego por causa de seu rostinho bonito”. E isso foi muito
fofo da parte de Elmo! Então, ela decide, com determinação, que ele está certo, e volta ao trabalho. Mas antes,
ela precisa resolver algumas questões, e é comovente como ela acaba, com toda a
educação do mundo, dando uma lição naqueles funcionários preconceituosos,
desabafando sua vida com eles.
E
é claro que eu me emocionei com a cena, porque a sinceridade de Damásia foi deveras emocionante! E ela fala um pouco
sobre sua história de vida – da oportunidade que nunca teve de estudar, por ser
uma escrava, porque é de um tempo em que os “pretos”, como ela mesmo disse, não
tinham direito aos estudos. E seu desabafo continua, quando ela conta que não
conheceu os pais, por ter sido vendida ainda criança. Mas a maior lição que ela
nos deu foi o PERDÃO, porque Damásia já passou por muita coisa na vida, e
aprendeu que o que passou, passou. Assim, ela acredita que todos – ela e os
funcionários – têm muito o que aprender uns com os outros, e depois de dar o xeque-mate da questão, quando propõe,
com firmeza, que eles resolvam se querem ou não trabalhar com ela, Damásia
acaba ganhando o apoio e a confiança de todos, e debaixo de aplausos, pelo
excelente exemplo de vida, eles a aceitam como Chef, e passam a respeitá-la,
porque não é preciso diploma para demonstrar que se é capaz de fazer o que se
sabe.
E
agora, ela está mais determinada do que nunca a enfrentar todas as adversidades
deste século, e também a estudar e se aperfeiçoar, para provar a si mesma que
se pode TUDO nesta vida.
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