Deus Salve o Rei – Glória, a falsa magra deslumbrada


Eu adoro Monique Alfradique! Ver a atriz em cena é relembrar sua cômica vilã, Priscila Bittencourt, da temporada de 2006, de Malhação. A patricinha cor de rosa aterrorizava a vida de Manu, a protagonista da novelinha, e eu achava as maldades de Priscila um máximo! Porque elas não eram tão tenebrosas assim… Quantas saudades desta temporada! E quantas saudades de Priscila, que, em minha opinião, foi uma das melhores vilãs da novela Teen! Mas não posso dizer que sinto o mesmo carisma por Glória, a personagem vivida pela atriz em Deus Salve o Rei, e isso não é culpa da atuação de Monique, mas, sim, do péssimo roteiro imposto à personagem. Glória passou mais de cem capítulos da novela sendo uma coadjuvante-figurante, porque ela estava na trama, mas ao mesmo tempo parecia não estar, por conta de sua falta de função na história, assim como muitos outros atores desta novela (Uma pena!).
No início da novela, Glória parecia ser uma personagem que poderia dar o que falar, pois ela era uma jovem com uma autoestima baixa, e vivia se achando inferior à outras garotas por ser gorda. Isso me fez pensar que, assim como tantos outros temas que Daniel Adjafre conseguiu dialogar com a atualidade, o problema de autoestima da personagem fosse ser mais discutido e detalhado, porque esse é um assunto sério. E não precisava fazer Glória viver um drama por conta disso, Glória poderia continuar sendo uma personagem cômica com um problema de aceitação, até porque, ela passou a ser uma falsa magra depois que descobriu uma fórmula milagrosa para emagrecer (comer a frutinha da árvore da magreza). O tema, Ditadura da Magreza, chegou a ser pincelado na novela, quando Glória foi até a Mandingueira e aceitou perder um ano de sua vida, toda vez que comesse da fruta “mágica” para se tornar magra, e isso daria uma boa discussão sobre essa busca pela magreza excessiva, que muitas mulheres almejam e, por conta disso, acabam prejudicando sua saúde.
Mas ao invés de levantar este debate através da personagem, o que daria super certo, porque eu penso que muitas mulheres poderiam se identificar e passar a se aceitarem, ou, ao menos tentar emagrecer de forma saudável, os autores resolveram jogar Glória para um outro caminho: o da ambição e ganancia. O problema é que a novela já estava saturada de tantos personagens ambiciosos e gananciosos, e colocar Glória neste time tornou um “porre”. Então eles decidiram “arremessá-la” para outro lado: o do DESLUMBRAMENTO. É claro que este é o meu ponto de vista sobre a personagem, pois, podia ser que este era o caminho que ela teria que percorrer desde o começo, o que não deixaria de ser chato do mesmo jeito. Enfim! Glória, que tinha tudo o que uma mulher poderia desejar: um noivo maravilhoso, carinhoso, atencioso, companheiro, com uma carreira promissora como pintor real, bonito e que a achava linda como ela era, acabou perdendo tudo ao deixar se levar pela vontade de viver uma vida de luxo. E depois que conseguiu ficar magra, ela se tornou insuportável por achar que era melhor que outras garotas, como se a felicidade de uma mulher estivesse em ser magra.
De tanto perturbar Osiel (Rafael Primot), para que ele comprasse um título de nobreza e se tornasse um nobre, Glória fez seu noivo desistir de se casar com ela, porque a mulher que ele amava já não era mais aquela por quem havia se apaixonado. E neste caso, Osiel tinha toda razão, ele, que já havia sido considerado o único homem sem a mancha da infidelidade em seu currículo de integridade, e que já tinha resistido aos encantos da beleza de Brice (Bia Arantes), era mais sensato do que Glória. Pois, para ele, mais valia ter uma vida de conforto e sossego, do que ter um título de nobreza, mas não conseguir sustentar tal ostentação. E quando Glória passou a desdenhar da vida humilde, porém, confortável que ele lhe poderia dar, Osiel se cansou de tudo aquilo e os dois acabaram rompendo, porque ele não poderia continuar uma relação com alguém que pensava em status mais do que em amor.
Um outro erro, ou enrolação, passou a tomar conta da vida da personagem: colocaram a jovem para ter um forçado romance com Ístvan (Vinícius Calderoni), outro personagem insuportável da novela. Ístvan já havia cumprido sua missão na trama, lá no início, quando fez a vez de noivo de Catarina (Bruna Marquezine), e perturbou a vida da, então, princesa de Artena por alguns capítulos. E os autores não precisavam ter trazido o personagem mais uma vez à novela, porque juntá-lo com Glória trouxe mais um caminho sem rumo e sem função para ela, e eu fiquei tipo: (?). Por sorte, resolveram eliminá-lo da trama através da peste, quando os autores resolveram fazer uma faxina no elenco, e tirar alguns outros personagens sem função, e olha que eles deixaram alguns para trás. Mas Glória, apesar de tudo, ainda amava Osiel, e quando ela teve a chance de reatar com ele, sua mãe, Naná (Betty Gofman), encheu a cabeça da filha de caraminholas para que ela se casasse com Ístvan, e ela ficou dividida entre Osiel e o “bem-estar” social que a mãe, com seus dramas, afirmava precisar.
Para fazer a última vontade de um moribundo, porque ela ainda tinha mais essa preocupação, Glória acabou se casando com Ístvan em seu leito de morte, tudo para conseguir o título de duquesa de Córdona, que Naná tanto queria para a filha, e que um dia Glória quis, porque depois desta decisão ela perdeu qualquer chance com Osiel e passou a enxergar que nada daquilo tinha importância (meio tarde, né?). Depois de tantos enfadonhos capítulos, a personagem ganhou, por fim, seu destaque quando passou a se envolver com Rodolfo (Johnny Massaro), e a integrar o núcleo cômico da novela contracenando com a melhor da área: Tatá Werneck (amo!). A partir dali, Glória conseguiu engatar sua história e a me cativar de verdade, já que a história da ditadura da beleza/magreza havia sido esquecida pelos autores. E a verdade é que eu acabei gostando do trio, que acabou dando certo e garantindo ótimas cenas e boas risadas. Ufa! Foi a salvação de Glória.


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