O Tempo Não Para – Marocas: de 1886 a 2018



Uma novela serve apenas para entreter? Mas é claro que não. Uma boa trama é aquela que levanta discussões, que nos faz refletir, questionar, analisar, olhar para o mundo ao nosso redor, e, ainda, conseguir nos fazer enxergar o que está fora do lugar. E "O Tempo Não Para" está fazendo isso de forma magistral. O texto bem amarrado de Mário Teixeira, seu roteiro bem construído, e seu enredo bem elaborado, só prova uma coisa: que nós ganhamos uma novela de qualidade, porque além de um grande autor, Mário está se revelando um grande historiador, com o levantamento de discussões que nos fazem questionar o grande contraste do passado com o presente. E ele, juntamente com sua equipe, nos deu um excelente sexto capítulo da novela, cheio de críticas ao governo e a sociedade brasileira. Que delícia! Eu adoro autores que conseguem nos fazer pensar! E aquele que consegue fazer essa proeza já pode se considerar um magnífico escritor.
Marocas levou um “baque” quando descobriu que estava no ano da graça de 2018, e não foi nada fácil pra ela saber que ficou congelada por mais de um século, o medo e o desespero passaram a fazer parte daquela revelação, porque ela agora se via no futuro, um futuro que ela jamais poderia imaginar que seria da forma que é, se não tivesse acordado nele. Assimilar toda aquela novidade estava sendo duro demais. Mas ainda bem que nós tivemos pessoas como Samuca e Carmem (S2!) para ajudá-la com essa BOMBA que tinha acabado de explodir diante dela. E era óbvio que eles iriam precisar de muita paciência e cautela, porque Marocas se revoltou contra eles, quando pensou que aquilo tudo não passava de uma brincadeira de péssimo gosto, e que eles estavam mentindo para ela. Mas para lhe mostrar que falavam a verdade, Samuca acaba lhe dando um choque de realidade, quando liga aquela televisão enorme deixando a garota impressionada.
O impacto acaba passando, e nós tivemos um divertido momento de Marocas se assustando ao conhecer uma TV. E ela parecia uma criança num parque de diversões pela primeira vez, quando diz: “Parece uma pintura, só que em movimento!”. Mas Marocas tem um coração de ouro, e mesmo extasiada com toda aquela tecnologia, ou melhor dizendo, toda aquela eletricidade que ela estava achando incrível, ela começa a se lembrar das pessoas de seu convívio, e a lamentar por elas não existirem mais. Porém, a curiosidade volta a falar mais alto, e ela quer saber tudo sobre o futuro em que está vivendo, e perguntas do tipo: “Quem é o Imperador?”, são feitas. E quando ela recebe a resposta de Samuca de que “agora eles têm um Presidente da República”, seu coração parecia que ia sair pela boca, afinal de contas, isso queria dizer que “a República dos idealistas, que iria pôr fim aos privilégios, havia vingado!”. Êpa! Infelizmente, não é bem assim. E a novela fez uma crítica maravilhosa através da personagem Carmem, porque nós sabemos que os privilégios não acabaram, e quando Carmem afirma que a “República vingou, mas que os privilégios ainda continuam”, nós tivemos uma crítica bem escancarada no texto de Mário sobre a corrupção do nosso governo. Só não vê quem não quer (Vrá!).
Mas Marocas estava feliz demais com a notícia para entender o que Carmem estava querendo dizer, e ver aqueles olhinhos brilhando ao descobrir que não há mais escravidão foi contagiante! Porque ela não tinha noção de que, na verdade, a escravidão no Brasil só acabou no papel. E antes que Carmem tenha a oportunidade de dizer que a realidade do negro é quase a mesma de séculos atrás, Samuca evita que a mãe fale a verdadeira situação que ainda vivemos, no que diz respeito aos negros, porque revelar à Marocas, uma engajadora na luta contra a escravidão, que o futuro, em alguns aspectos, era mais atrasado que o passado, seria demais pra ela. Pois, a garota estava pensando que o avanço havia chegado a todos os lugares daquele “futuro”, inclusive no coração daquelas pessoas da modernidade, e ela estava encantada, saltitante, e cheia de entusiasmos com tanta novidade (linda!). Mas nada é o que parece ser. E ela é incansável em suas curiosidades. Ao perguntar a Samuca, quantos habitantes tem a Vila de Piratininga (atual São Paulo), ela fica boquiaberta com a resposta de “doze milhões de habitantes!”, e sua primeira preocupação é saber se há comida para tantas almas. Mas uma vez, Carmem tem a resposta na ponta da língua: “Não. Porque não é bem dividido.” (essa é a realidade do Brasil, onde uma minoria tem de sobra, e uma grande “massa” não tem nada. Ah, Marocas! Se todos tivessem a mesma preocupação que você, com certeza viveríamos em um mundo melhor).
E as novidades não param na vida da garota, que a cada passo descobre algo fascinante! Como se ver na tela da teve e se surpreender com sua própria imagem, depois que o barulho do helicóptero do repórter sensacionalista, Pedro Parede, sobrevoa o apartamento de Samuca filmando o interior da residência, e entrando ao vivo para dizer, em rede nacional, que o jovem está mantendo Marocas como refém. E ela nem sabe o que está acontecendo direito, porque estava muito impressionada se vendo dentro da tela, e com aquela máquina voadora imensa: “Sou eu?… Eu estava… na tela animada!”. E, então, tivemos uma crítica aos avanços da moderna tecnologia: a falta de privacidade, e os novos tipos de “mexericos”, que num passado não muito distante era passado de boca em boca, e agora é transmitido em uma escala maior, de forma abrangente e com uma maior intensidade (é a chamada: imprensa “marrom”). Era chegada a hora de Samuca cumprir com sua palavra, e levar Marocas para rever sua família, na Criotec, e aquele “passeio” de carro iria deixar a garota ainda mais fascinada. Marocas se encanta com o visual da cidade, e até o asfalto plano chama sua atenção: “Então, isso é o futuro? Máquinas poderosas que funcionam sem tração animal?…Uau! Quantas pessoas!” (amando a atuação de Juliana Paiva! Está demais!). Samuca e Carmem se divertem ao ver Marocas encantada, e olha que isso é apenas o começo de muitas outras novidades, que ela, ainda, descobrirá por conta própria.


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