O Tempo Não Para – A bondade de Dom Sabino e Marocas

   
Menelau não estava compreendendo muito bem como seria sua vida a partir do momento em que despertou do congelamento. Helen e Petra haviam contado a ele que não havia mais escravidão e que era um homem livre. Mas tudo o que ele ainda queria era reencontrar seu senhor, Dom Sabino, porque não tinha muita certeza se aquela história de abolição havia mesmo ocorrido. E ele precisava ver o pai de Marocas, porque era homem de segurança da família e os Sabino Machado poderiam estar precisando dele. Menelau chegou a pensar que se houve mesmo uma abolição, Dom Sabino, então, o havia alforriado, e que se aquilo tivesse acontecido só poderia ser ideia da sinhazinha Marocas que era uma abolicionista. Se, de fato, tal ação tivesse acontecido, Marocas poderia mesmo ter algo a ver com ela por conta de seu comportamento defensor dos negros. E se ela estivesse acordada em 1888, deveras, teria tido o prazer de lutar pelo fim da escravidão.
Em meio àquela confusão em que os enfermeiros tiveram que aplicar um sedativo para conter os ânimos de Menelau, porque ele pensou que eles o estavam querendo manter cativo, ele acabou caindo por cima da cápsula de Cesária, despertando mais uma congelada com o baque da queda. Os dois, escravos de Dom Sabino, ficaram mais assustados do que nunca, embora Menelau tenha tentado tranquilizar sua irmã de cor durante todo o tempo, porque eles não sabiam onde estavam e nenhuma daquelas explicações da Dra. Petra e de Helen faziam sentido para eles. E a psiquiatra da Criotec se compadeceu dos dois, principalmente quando viu o quanto eles estavam sofrendo quando escutou aquela conversa onde Cesária declarou, chorosa, o quanto sentia falta de Nico, Kiki e Marocas. Helen não suportou ver aquele sofrimento, porque ela constatou que Petra estava sendo cruel demais mantendo os congelados como objeto de estudo e se negando a enxergá-los como seres humanos.
Correndo um grande risco ao violar as regras da Criotec, Helen tira os dois do centro científico depois de provocar um desligamento no sistema de câmeras, para poder sair do lugar sem ser vista com eles. Ela os deixa em frente ao prédio de Samuca, na esperança de que eles possam ficar em segurança ao receber a ajuda do jovem. Mas a coisas dão errado, porque Menelau agride Lalá ao vê-lo ser violento com Vera Lúcia, e os dois acabam indo parar na casa de Marciana, a mãe da garota que os leva para sua residência como forma de agradecimento por Menelau ter defendido sua filha. Depois de descobrir de que se tratavam dos congelados, Marciana os conduziu até à casa de Eliseu, e um emocionante reencontro entre eles e seus senhores nos comoveu de forma linda e tocante. O alívio de terem reencontrado seus donos foi imensa, porque Menelau e Cesária sabiam que os Sabino Machado eram mais que seus senhores, eles eram pessoas que sempre trataram o próximo com respeito, carinho e sem distinção de cor de pele.
E nada foi mais emocionante do que Marocas e Dom Sabino pedindo para que os dois se levantassem daquela reverência toda, porque eles agora eram livres e podiam fazer de suas vidas o que bem quisessem. E foi tocante vê-la olhar no fundo dos olhos de Menelau e dizer para ele e para Cesária“que ninguém jamais ousaria colocar a mão sobre ele para o dominar novamente, porque todo homem é livre. E toda mulher também, Cesária”. E Dom Sabino teve um gesto muito nobre quando disse que tinha o prazer de apertar a mão de Menelau de igual para igual, porque agora não existe mais senhores e nem escravos, algo que, de certa forma, para o pai de Marocas nunca existiu, porque ele nunca foi dado a esse tipo de dominação. E se um dia Dom Sabino foi um senhor de escravos, não era porque queria dominá-los, mas sim para poder dar uma vida melhor para aquele povo que sofria com os maus tratos de seus donos severos. E ter escravos fazia parte da época. Infelizmente.
A bondade de Marocas referente aos seus escravos sempre fora bem explícita, porque ela sempre os teve como entes muito queridos. E com Dom Sabino não era diferente, como naquela cena em que nos foi mostrado, através de um flashback, como Menelau chegou às mãos dos Sabino Machado: ele era um negro muito arredio e que nunca conheceu o carinho por parte de seus antigos donos. Depois de ser comprado por Dom Sabino, ele chegou a agredi-lo com uma mordida na mão, porque se recusava a receber a comida e a bebida que o pai de Marocas estava lhe dando na boca, para que ele não morresse. Era a forma de ver o mundo que Menelau tinha, porque nunca ninguém tinha lutado por sua vida ou se importado com ele. E foi lindo ver como Dom Sabino foi paciente, não desistindo de fazer dele um homem capaz de superar as agressões do passado, porque com ele como seu dono a vida de Menelau seria diferente.
Mesmo tendo a liberdade nas mãos, Cesária e Menelau não sabiam para onde ir, afinal de contas, como Dom Sabino sempre diz: “bela abolição, esta!”, que foi feita sem pensar no que fariam com os negros alforriados e qual tipo de vida eles teriam a partir de então. E foi exatamente isso que o pai de Marocas quis dizer quando Menelau questionou o que seria dele agora que era livre, e Dom Sabino respondeu que não sabia, e que talvez ele iria para uma favela. Era um momento de reflexão sobre tal abolição. Será que houve mesmo uma, ou apenas documentaram que os negros eram livres e eles que se virassem no mundo, porque já não eram responsabilidade de ninguém? E é duro ver que de lá pra cá eles ainda caminham a passo lento. Mas Marocas lhe falou de negros em cargos de brancos, e brancos em situações antes vista apenas com negros. Há um fio de esperança em meio a esse mundo de injustiças? Quem sabe! E Marocas e Dom Sabino são bondosos demais para deixarem à deriva pessoas que eles amam e respeitam demais. E, dessa forma, Menelau e Cesária ainda continuam sob seus cuidados, até o dia em que eles decidirem o que fazer de suas vidas.
E eu termino este texto como? Chorando muito, é claro!


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